segunda-feira, 3 de abril de 2017

stop

Quando eu casei pensei que era para toda a vida.
Assim me ensinaram
Ele era de boas famílias, tratava-me bem, dizia que me amava
Devia ter reparado nos sinais, durante o namoro começou a ser desconfiado
Controlava as minhas saídas, as minhas amizades, até se intrometia na forma como eu me vestia
Até ao dia que me deu uma primeira bofetada
Eu perdoei
Casei e gradualmente começaram as agressões
Primeiro, os insultos, fazia-me sentir um lixo
Depois paulatinamente, vieram as agressões físicas
Ele era engenheiro
Éramos de uma classe social alta
Sempre aguentei em silêncio
Escondi os abusos que me eram infligidos, de todos
Anulei-me
Até ao dia, em que se mata ou se morre
Gritei, "Basta"
Denunciei, deixei que o sangue e os hematomas falassem por mim
Mas as chagas da alma, ninguém as vê
Só quem viveu o que eu vivi
Sabe o que é o Inferno
Agora o terror acabou
Estou a reconstruir-me como mulher
Não tenho vergonha de ter sido vítima de violência doméstica
Somos todas mais fortes do que pensamos
Se eu fui capaz, todas somos capazes...
Maria Rita
Por Tiago Seixas, Inspirado em "Os Pássaros também choram"

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