sexta-feira, 24 de março de 2017

o sofrimento de uma mãe

O sofrimento de uma mãe
Minha filha. Filha minha! Dor de alma, partiste molestada por esse cancro maldito, sem que me perdoasses. Sou velha, toda eu sou velha, perdi o teu filho e agora entendo o teu sofrimento. Quando perdemos um filho, já não somos deste mundo. O que nos sobra? Venham, venham todos, mal me seguro das pernas e estou a um fio da loucura, mas chego para vós! Venham esmifrar a minha pequena reforma, venham saltimbancos, sanguessugas, que eu já não sou desta vida. Calcorreio uma gaiola escura e solitária, a que chamo casa, onde o silêncio é mais ruidoso que o peso das vossas moedas a tilintar nos cofres. O meu tesouro foi roubado. Não tenho nada, nada sou! Quero lá saber da fome, ou da guerra, sou velha, mais velha que a minha idade e o meu sofrimento é maior que todos vós. Tirem-me a casa, arranquem-me o cordão do peito, tragam-me um coração novo para que possa amar. Filha, minha filha. Depois de ti, o que me sobra? Venham todos e quem tiver coragem, que me diga, que me olhe nestes olhos, por onde a vida passou, leitos do rio, qual dor há na vida, maior que a perda de um filho? ... Leonilde
Por Tiago Seixas, Inspirado no romance "Os Pássaros também choram"

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