quarta-feira, 22 de março de 2017

Quando o meu filho foi raptado, ainda criança, eu chorei lágrimas de sangue, como se um vampiro me sugasse as veias e me deixasse sem alma. Não sei explicar esta dor colossal, este soçobro em que vivo. Morri naquele dia e fui morrendo paulatinamente em cada abuso infligido pelo meu marido. A minha mãe pôs-me o nome de Rita pela devoção em Santa Rita. Quando ele me ofendia em palavras, me pisava como uma folha murcha esquecida numa estação qualquer, ou molestava o meu corpo em chagas, eu fechava os olhos e mussitava: “Santa Rita salvai-me deste Inferno”… O meu pássaro agitava as asas amiúde na gaiola, foi uma fiel testemunha da violência que vivi. Batia com a cauda, as penas, o bico na haste da gaiola, queria salvar-me… Um dia se o cancro não me vencer, quando eu sair deste ergástulo, serei como o meu pássaro, ganharei asas e adejarei até ao Céu. Serei uma andorinha e viajarei milhares de quilómetros e pousarei nas mãos do meu filho roubado. Depois por sua livre vontade, deixo-o partir ou ele a mim e continuarei a voar serena e livre, até repousar no manto imaculado de Santa Rita, porque o amor nada mais é que liberdade!
Escrito por Tiago Seixas, inspirado no meu comovente romance “Os Pássaros também choram”.

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